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Entrevista de Raul Teixeira - Sobre a família


VIOLÊNCIA NO LAR

Por que tanta violência entre pais e filhos?

Raul – No capítulo da violência entre pais e filhos, deparamo-nos com adversários que reencarnam-se no mesmo conjunto doméstico, para atenderem ao serviço da recuperação de si mesmos, desfazendo rastros odientos e frustrações afetivas com o esforço devido; no entanto, ao lado desta realidade, conhecemos a indiferença e o abandono a que muitos filhos são relegados por seus pais, despertando velhos antagonismos, de conseqüências imprevisíveis.

Há que buscar-se o equilíbrio que o Evangelho de Jesus ensina. Aquele que mais compreender, sirva, oriente, perdoe, a fim de diminuir-se a onda de violência entre pais e filhos. Não esqueçamos, entretanto, que o abandono dos filhos, o ato de relegar-se sua orientação a escolas e a terceiros, a imposição sem explicação educativa, o fato de permitir aos filhos usos perigosos; apenas para não incomodar-se, não deixam de ser, à luz do Espiritismo, tenebrosos atos de violência, com os que atraiçoamos a confiança da Divindade, e que deveremos ajustar em tempos do futuro, e muitas vezes, de um futuro a iniciar-se hoje mesmo.

FILHOS ADOTIVOS

Os filhos adotivos: quando e como os pais devem falar a verdade?

Raul – Desde que são adotados, deverão sabê-lo. Não há porque aguardar que cresçam. Os filhos adotivos convivem muito bem com a revelação que lhes é feita, se feita com atenção e com ingredientes de carinho, sem a intenção de magoar, de ferir. Alegar-se-á a desencarnação dos verdadeiros pais ou a impossibilidade deles para criá-los, por insuperáveis dificuldades. Deixem-nos sentir que são amados, respeitados como filhos realmente, e nenhum problema advirá além das marcas com que a provação já os assinalou.

SEPARAÇÕES NO MATRIMÔNIO

A que se deve o número cada vez maior de separações no matrimônio?

Raul – Deve-se ao fato de não ter sido levado em conta a lei divina, conforme anota Allan Kardec, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XXII, item 5.

Os problemas de intolerância, a liberalidade da formação do caráter, o despreparo para as responsabilidades do casamento, o orgulho soez e seus afins, representam elementos danosos a atentarem contra os lares de fracos alicerces.

DIVÓRCIO E FILHOS

Quando o divórcio é iminente como fica a situação dos filhos?

Raul – A situação do divórcio do casal, com raríssimas exceções, perturba muito os filhos. Seja pela divisão emocional que se processa, seja pelo caráter odiento em que se estriba, os filhos ficam como que sufocados num clima desestruturador, desde a iminência, desde as conversas, as querelas, as friezas ou os desrespeitos.

Melhor seria que os casais se pudessem compreender melhor, evitando que essas aves implumes e dependentes, que são os filhos, caiam do ninho desfeito ou mal mantido, perturbando-se ao invés de avançar para Deus, em clima de segurança.

FILHOS ENVOLVIDOS COM DROGAS

Qual deve ser o comportamento dos pais, quando os filhos estão envolvidos com drogas?

Raul – O do esclarecimento lúcido, sem emoções desequilibradas, mostrando que eles, os filhos, são os primeiros e grandes lesados. A persistir o envolvimento, nenhum pai responsável e que ame seus filhos, deverá negar-se a conduzi-los a tratamento médico, ou médico e psicológico, com profissionais de comprovada confiança e, se necessário, pelo nível de descontrole a que cheguem ou pelos perigos para os implicados ou para a própria família, a internação em competente clínica. É bom que lembremos que, em tais casos, o paciente não tem que decidir se vai ou não internar-se, uma vez que já demonstrou não estar sabendo utilizar seu livre-arbítrio para o bem de si e dos que o rodeiam.

Ao lado do atendimento de profissionais, a oração e o tratamento da fluidoterapia espírita, em muito contribuirá para desfazer-se o quadro tormentoso, considerando-se a insuflação obsessiva que costuma estar presente em situações desse gênero.

INFLUÊNCIA DA TV

Como você vê a influência da televisão no lar?

Raul – Na atualidade são poucas as emissoras e programações de televisão que apresentam material de boa qualidade educativa ou divertimentos saudáveis para quem os vê. Quando não é o noticiário tendencioso e escandaloso, é a violência que, como um vírus, penetra e adoece o organismo doméstico, acompanhado por algumas novelas que apresentam tanta “realidade”, que conseguem desequilibrar, transtornar os de mentalidade mais frágil. Urge adotemos uma postura analítica perante as programações.

O costume de dialogarem os esposos, pais e filhos, os irmãos entre si, discutindo esse ou aquele aspecto do que viram e ouviram, auxiliará, sobremaneira, a que se forme um critério seletivo, seja individual, seja da equipe familiar, quando se chegue a um consenso positivo.

Por outro lado, percebemos que os indivíduos que põem no ar a ganga intelectual em forma de programas e atrações, são os elementos das famílias perturbados em si mesmos, vaidosos ou de moralidade cediça, o que nos permite destacar a importância, ainda mais, da educação que a família pode oferecer.

FAMÍLIA ATUAL

Sob que aspecto a família atual está mais descuidada?

Raul – Ao que podemos contemplar, a família acha-se, de um modo geral, descuidada nos mais diversificados aspectos da vida, considerando-se o seu papel de “escola das almas”, e a primeira escola por sinal dos que chegam no mundo terreno. Entretanto, as raízes atormentadoras de tanto desajuste familiar, vemos na vivência materialista, sem as noções básicas quanto ao Espírito imortal, a descrença em Deus, embora a maioria professe rituais e cultos variados e vazios de conteúdo mais profundo acerca da vida.

É aí que o conhecimento da reencarnação, da lei de causa e efeito, conforme ensina o Espiritismo, pode despertar os pais, os filhos, esposos, para que reflitam acerca das responsabilidades graves que têm, em face das relações familiares, com vistas ao futuro de alegrias e de paz.

MÃES QUE TRABALHAM

Mãe que trabalha fora do lar prejudica a educação dos filhos?

Raul – Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec recebe dos Espíritos a informação de que a paternidade é uma verdadeira missão e, mais do que isto, que é um grandíssimo dever e que envolve, mais do que pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro, conforme notamos na questão 582. Acredito que a questão grave não seja a situação em que a mãe precisa trabalhar fora do lar, mas sim, como fará ela a necessária compensação, quando ao lar retorna.

É certo que admitimos que a ausência da mãe sempre provocará, sobre os filhos pequenos, processos de carências que ninguém suprirá devidamente. De acordo com o tipo de Espírito, essas carências poderão atingir índices altos de transtornos na formação da personalidade infantil, a desaguar nos desajustes da adolescência, quando não corrigidos a tempo.

Faze-se, assim, importante que a mãe que trabalhe fora de casa, empreenda maiores esforços para envolver a criança, atendê-la, entendê-la, ajudá-la em seus trabalhos escolares, dialogando sempre. Enfim, torna-se imprescindível que os pais, e particularmente a mãe, conversem com as crianças sobre as razões ponderáveis.

Não deverão os pais, em chegando ao lar, fixarem-se nas intermináveis novelas, em leituras de jornais delongadas, irritando-se com a aproximação ou solicitação dos pequenos, aos quais, antes deveriam buscar para aconchegá-los.

Nesses casos, depois que os pais cheguem em casa, eles próprios superarão o cansaço para cuidarem, com atenção e carinho, dos filhos que ficaram sem eles durante todo o dia, ou grande parte do dia. Os finais de semana, igualmente, deverão ser passados junto dos filhos, aproveitados na companhia deles, salvo em casos de necessidade imperiosa que determina o contrário.

Necessário se faz renunciar a alguns prazeres e divertimentos, enquanto os filhos disto careçam, a fim de formá-los no equilíbrio para o futuro, agindo dentro da orientação espírita, de acordo com o que nos lembra a Codificação Espírita.

EDUCAÇÃO SEXUAL

No mundo atual vemos aumentar o desequilíbrio no campo sexual. Até que ponto os pais têm influência na educação do sexo?

Raul – O sexo, representando uma das potências das quais se vale o Espírito, para progredir e cooperar com Deus na Obra universal, não encontrará equilíbrio, enquanto outras áreas do ser não forem bem trabalhadas pela educação superior. Jamais encontraremos sexualidade equilibrada em indivíduos egoístas, vaidosos, irascíveis, orgulhosos, violentos, mentirosos e usurpadores. Assim, no dizer do Espírito Joanna de Ângelis, a família deve educar seus filhos para Deus, para que, então, o todo se encaminhe para a faixa da harmonia.

A morigeração dos hábitos, o respeito à vida em todas as suas dimensões, o cuidado de si mesmo, a sinceridade de uma religião profunda, farão com que a família cresça conduzindo seus filhos para Deus, com suas energias de criação, de características sexuais, ajustadas ao respeito, à dignidade, ao bem geral.

FILHOS E CENTRO ESPÍRITA

Qual a atitude dos pais, quando os filhos não aceitam o encaminhamento ao Centro Espírita?

Raul – Se são filhos emancipados, com vida própria, caberá aos pais o respeito à sua condição e escolha. Entretanto, o mesmo não poderá ocorrer com os filhos menores, totalmente dependentes dos pais. É uma questão de coerência. Aos pais, neste caso, caberá persuadir, sem violência, mas com seriedade e severidade, para que participem da doutrina que auxilia o lar a manter-se em franco clima de progresso e de trabalho.

Os que perante Deus são incumbidos de dar o alimento, o calçado e a veste, a escola e o cobertor, por que não ensejariam aos filhos a opção do conhecimento espírita?

Mesmo que mais tarde, emancipados, se afastem do caminho espiritista, estarão lançadas as sementes da verdade, que um dia, germinarão, ainda que seja sob chuvas de testemunhos difíceis ou entre os ciclones de dores acerbas, ou, ainda, ante as exigências da alma, na sua sede de comunhão com Deus.

Entrevista concedida por Raul Teixeira em Catanduvas-SP e reproduzida pelo Jornal Mundo Espírita de agosto de 1986.